13 Reasons Why e as Múltiplas Verdades - Víctor Graecus

6/01/2019

13 Reasons Why e as Múltiplas Verdades


Os Treze Porquês é um romance escrito por Jay Asher lançado em 2007. Ele conta a história de Clay Jensen. Um garoto que ao voltar da escola um dia percebe um misterioso pacote na frente de sua casa. Ao abrir encontra fitas cassete enumeradas de 1 ao 13. 

Ao começar a escutar as fitas, Clay escuta a voz de Hannah Baker, uma garota que havia se suicidado duas semanas atrás. Ela se apresenta e diz que existem 13 porquês de ela ter feito isso, e se você está escutando uma dessas fitas, você é um desses porquês.

A Minha Verdade. A Tua Verdade

Ao perceber a situação, Clay vai de bicicleta até a casa de um amigo, Tony, onde rouba seu Walkman e utiliza ele para passar a noite andando pela cidade e escutando as fitas deixadas para ele.

No livro, nós temos dois narradores que vão se revezando. O primeiro é Hannah, a garota que narra através das fitas tudo o que sofreu, desde pequenas ofensas ou discussões, até estupros e a morte de um amigo dos narradores. O segundo é o próprio Clay, que descreve como ele está e o que está sentindo. Ele também dá a sua visão de todos os lugares onde visita.

Essa dinâmica de narrativa faz com que vejamos apenas duas verdades, o tempo inteiro. A de Hannah, que narra tudo o que está sentindo antes do momento final; e a de Clay, que ama a garota e ainda não sabe como lidar com todo o ocorrido. Todos os personagens citados sequer aparecem no tempo que seria a atualidade do livro, nenhum deles entra em contato com Clay enquanto ele escuta as fitas. Sendo assim, nós temos apenas a verdade de Hannah e a do garoto.

Quando li esse livro, no meio do ano de 2015, não percebi que essa fato é extremamente perigoso. Acontece que, assim como em Dom Quixote, essa dinâmica de narrador único pode distorcer o que de fato aconteceu. Porque se apenas uma pessoa conta seu lado da história, pode ser que ela esteja mentindo. Apenas mais tarde fui entender um pouco melhor.

As Múltiplas Verdades

Em março de 2017 foi lançada pela Netflix a série de 13 Reasons Why, de mesmo nome. Dessa vez a história de Hannah Baker atingiria o mundo inteiro. Quando li a obra pela primeira vez, ela mudou a minha forma de pensar, realmente marcou. Assim, quando a série foi lançada, "maratonei" os 13 episódios em menos de dois dias. E aparentemente o mundo inteiro fez a mesma coisa. 

A produção de Selena Gomez fez sucesso mundial, a ponto de criar uma instituição de prevenção ao suicídio e apoio a familiares de vítimas, e gerou polêmicas e discussões por todos os lugares.

Quando passada para a mídia audiovisual, a história de Hannah e Clay teve de sofrer algumas alterações. Ao invés de Clay escutar tudo em uma noite, ele passou a escutar aos poucos, por dias. A história passou a contar também com muitos flashbacks e o principal, vemos como estão lidando os outros adolescentes. Outras verdades entram no jogo, e tudo vai ficando ainda mais complexo.

Enquanto isso, outros lados da história também se desenrolavam. Como o lado dos pais da menina, o lado da escola, o lado da mídia... enfim, o resto do mundo.

De qualquer forma, a narrativa de Hannah ainda é a mais presente. Tudo remete ao que aconteceu nas fitas, ou o que aconteceu nas duas semanas depois delas. Mas isso começa a mudar com o último episódio da temporada. O episódio 13 da primeira temporada representa o fim da vida de Hannah, o fim do caminho de Clay ouvindo as fitas, e principalmente, representa um gancho para o futuro. O que está por vir. O depois da tragédia. Pois bem, estamos nesse futuro. E o que venho?

Quantas verdades existem?

Sexta-feira, 18 de maio de 2018, lança a segunda temporada de 13 Reasons Why. As expectativas que ficaram giram entorno principalmente de o que irá acontecer com Bryce Walker, o capitão das equipes de basquete e beisebol da escola e estuprador de Hannah e de sua amiga Jessica. Mas acontece que tudo isso fica para um segundo momento da temporada, e a discussão do vídeo de hoje é outra um pouquinho diferente.

Pois bem, passam-se cinco meses desde a primeira temporada e os pais de Hannah abriram um processo contra a Liberty High School (antiga escola de Hannah) por responsabilidade ao suicídio da garota. O caso chegou à última instância e a série inicia com o início do julgamento no fórum.

Durante toda a primeira temporada (e também durante todo o livro), Os 13 Porquês trabalha com uma linha condutora que diz: Hannah Baker é totalmente uma vítima do que aconteceu. Ela sofreu com isso, com aquilo e com aquele outro. Porém, em apenas 25 minutos de segunda temporada, a série destrói totalmente esse pensamento e, com o testemunho dos estudantes no julgamento, ela mostra que existem muitas verdades. E talvez a de Hannah não seja uma das mais críveis.

Para falar a verdade, a Hannah esconde muita coisa nos seus 13 motivos e conta apenas a história que ficava mais confortável pra ela naquela situação tão desconfortável. E, assim como o livro me fez mudar alguns conceitos em 2015, essa situação toda criada pela segunda temporada está me fazendo pensar em algumas coisas, como por exemplo: até onde nós conhecemos as pessoas e até onde a verdade delas é realmente uma verdade.

Uma ala das ciências que sempre estudou isso foi a filosofia. E pesquisando encontrei algumas respostas para algumas perguntas:

Jean-Paul Sartre diz que “a verdade está na essência do indivíduo, ela é resultado dos valores de uma sociedade”. Nietzsche vai defender que a verdade não existe. E Foucault, vai dizer que para ser verdade, ela precisa ser livre (totalmente). Ela não pode estar vinculada a uma institucionalização porque, desta forma, a verdade será manipulada, gerando constrangimentos e formas de comportamento.

Ou seja, diferentes filósofos pensaram sobre a verdade, e, curiosamente, cada um deles chegou a uma conclusão diferente sobre o que ela é: o que só comprova que a verdade é extremamente relativa.

Com isso como ponto chave, a segunda temporada de 13 Reasons Why trabalha de forma genial com as múltiplas verdades e nos faz refletir não mais só como afetamos o nosso entorno, mas também como conhecemos pouco do que nos cerca. E isso me faz pensar que todos os filósofos acima estavam errados, em especial Nietzsche.

A verdade existe, porém não está ao nosso alcance. Como nos cegos no elefante, temos acesso a apenas um trecho de tudo o que acontece, e a nossa verdade só estará relacionada àquela visão. Assim, nunca veremos o todo e descobriremos toda a verdade. Porém ela está lá. Sempre está lá.

Mas é claro que essa é apenas a minha visão da verdade, que não envolve o todo. Qual a sua? Deixe aí em baixo nos comentários.

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Esse texto é uma adaptação de um antigo roteiro de vídeo do canal. Para assistir ao vídeo completo clique aqui. Para conteúdos originais dessa plataforma, acompanhe as últimas publicações do Blog.

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