1917 é um filme imersivo impressionante, mas só - Víctor Graecus

1/29/2020

1917 é um filme imersivo impressionante, mas só

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Antes de mais nada peço perdão pelo título sensacionalista, 1917 não é apenas um filme imersivo. Na realidade é um excelente filme que trás absurdos de técnica, uma história até interessante, e te prende do início ao fim. De qualquer forma, eu precisava chamá-lo para essa análise. Então muito obrigado por ter clicado.

1917 é um filme ambientado na primeira guerra mundial, mais especificamente no dia 06 de Abril de 1917. Conta a história de dois soldados que são escolhidos para entrar em território inimigo e enviar uma mensagem para outro pelotão a tempo de evitar 1600 mortes em uma armadilha preparada pelo exército alemão.

Apesar da premissa simples, porque todo o filme se passa realmente focado apenas no trajeto desses dois soldados indo até o outro batalhão, 1917 surpreende por apostar alto na técnica cinematográfica em sua produção. O longa é todo gravado de forma a parecer que é um único plano sequência de duas horas. É de tal forma impressionante que durante os primeiros minutos na sala do cinema cheguei a ficar nervoso com o tamanho do take que aparecia na tela. Além disso, o design de produção, o som e os figurinos, tudo, chama muito atenção. Vamos destrinchar cada um dos aspectos a partir de suas indicações ao Oscar.

Começando pela indicação de Melhor Diretor para Sam Mendes, um dos favoritos para levar o prêmio para casa, podemos chamar atenção para o tamanho cuidado que uma produção tão ambiciosa quanto 1917 precisa ter para sair do papel. Esse cuidado que inclusive é salientado pela grande quantidade de indicações técnicas que o filme recebeu para a cerimônia, foram seis. E a mão de Mendes está em tudo, pois todos os aspectos técnicos são utilizados para o objetivo central do filme: criar uma imersão completa do espectador naquele cenário. A forma como o diretor consegue utilizar de técnicas não só de fotografia, mas de iluminação e ritmo para passar sentimentos com o filme é realmente maestral. Conseguimos sentir a dor do personagem em momentos mais calmos, e a adrenalina das cenas de embate sem a necessidade da comum sequência de cortes rápidos de filmes de ação.

1917
Diretor Sam Mendes no set de filmagem tentando fazer os atores serem melhorzinhos
O design do produção do filme é algo realmente incrível.  Durante seis meses os atores tiveram ensaios cronometrados apenas para definir como os cenários seriam montados. Trincheiras inteiras foram escavadas respeitando a forma como americanos e alemães montavam durante a guerra. Em vídeos dos bastidores do filme podemos ver como um vilarejo inteiro foi criado em mínimos detalhes respeitando questões geográficas, em um espaço altamente controlado, apenas para a passagem do ator e da câmera durante o plano sequência. A atmosfera da batalha inclusive pode ser vista durante o filme, quando os soldados logo no início saem da região das trincheiras, vemos o mundo como era antes. Um pomar com frutas e uma pequena casa de interior cercada apenas por pasto. Os mínimos detalhes do caminho dos soldados são pensados para que quem está assistindo ao filme consiga absorver tudo e não desgrudar da tela por nenhum segundo.

E evidente que isso tudo é ressaltado pela fotografia surreal de 1917. É claro que anteriormente já havíamos visto filmes gravados em plano sequência. Inclusive a academia gosta muito desse estilo de filme, visto as indicações recentes de Birdman e O Regresso ao Oscar, mas nunca antes havíamos visto um cenário de guerra dessa forma. As batalhas estão ocorrendo no entorno dos personagens principais do filme e a câmera se posiciona como fosse a visão do espectador de dentro do campo. Além do próprio plano sequência, técnicas de iluminação são utilizadas para ressaltar sentimentos em nós espectadores durante o filme. Quando em um quarto seguro dentro de um vilarejo com um bebê recém nascido, nós temos um ambiente de cores quentes. Quando sozinho em território inimigo, o personagem no centro da tela está cercado por tons frios, num azul do anoitecer.

A fotografia de 1917 é uma aula de como utilizar a técnica para auxiliar a narração de um filme. Em especial de um longa. Inclusive, diria que junto com O Farol, é o favorito para levar o prêmio na tão esperada noite.

A trilha sonora de 1917 é boa, mas não é tão marcante. Se eu escutasse em algum lugar, poderia até lembrar de que filme é, mas não saí com ela na cabeça. Já as indicações aos prêmios de som (mixagem e edição) se sustentam principalmente no apoio que esse elemento precisa dar à narrativa em filmes de guerra. Por isso, nos últimos anos, em quase todas as edições do Oscar um filme de guerra foi indicado (como Dunkirk, Até o Último Homem, Sniper Americano, etc.). Em especial a edição de som que garante em conjunto com a fotografia um ótimo ritmo ao longa. Mixagem serve mais de apoio para a próxima área a ser citada: Efeitos Visuais.

Em geral, os efeitos visuais de 1917 são físicos e reais - as explosões que vemos na sequência final do filme, por exemplo, realmente estavam acontecendo no set de gravação - e isso dá mais realismo a um filme que, novamente, tem como principal propósito a imersão do espectador. Levando isso em conta, não me surpreenderia se o filme levasse o prêmio, apesar de que eu ficaria extremamente desapontado se Ultimato não levasse nada (vide texto que você pode ler clicando aqui).

Cabelo e Maquiagem é um prêmio que eu pessoalmente nem sei como que 1917 foi indicado a concorrer. Facilmente colocaria Vingadores no lugar, mas quem sou eu para discutir esse tipo de coisa. No fundo eu nem sei exatamente o que é analisado nesse prêmio.

1ª take de 1917
A primeira impressão do filme já é incrível
Por fim, resta falar sobre os dois prêmios principais que 1917 está concorrendo: Melhor Roteiro Original e Melhor Filme. 

Talvez o maior mérito do roteiro de 1917 é ele simplesmente ter saído do papel. Apesar da história narrada ser absolutamente simples, o que realmente impressiona é a produção em si: os movimentos literalmente cronometrados; o ensaio evidente por trás das cenas. 1917 conta uma história simples, às vezes até simples demais, de maneira bem feita. Não é um dos filmes favoritos para ganhar esse prêmio.

Tão pouco é um dos favoritos para ganhar Melhor Filme, mas aqui vale uma observação interessante sobre essa edição do Oscar. Percebam como em nenhum momento durante a análise eu falei sobre os atores, ou até mesmo os nomes dos personagens. É porque, de fato, não faz absolutamente nenhuma diferença na experiência. É claro que a motivação inicial para os personagens do filme correrem os perigos (e não vou falar qual é) advém do nome de um deles, mas para nós isso não chama atenção. Porque 1917 se perde em criar a tão citada imersão e deixa um pouco de lado a história. Porém, ao mesmo tempo que um filme com essas características é indicado ao Melhor Filme do Oscar 2020, um estudo de personagem como Coringa também é indicado, mostrando uma certa pluralidade nas indicações da academia esse ano (muito em consequência não dela, mas do ótimo ano para o cinema que 2019 se mostrou).

Por fim, 1917 não é um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme, mas é com certeza uma experiência ótima para se ter no cinema. Indico a todos que estiverem a fim de assistir algo nas telonas.


Antes de encerrar, gostaria de salientar a participação de Andrew Scott e Benedict Cumberbatch no filme. Adorei como eles gastaram muito em dois atores de ponta em papéis insignificantes e deixaram dois atores bem mais ou menos nos papéis principais. Quando Cumberbatch apareceu quase dei um pulo da cadeira do cinema de tão inesperado. O filme melhorou 10x naquele momento. As falas totalmente clichês me fizeram perder a empolgação. É foda.

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