O
filme El Metodo (O Que Você Faria?) narra a história um processo seletivo de uma
grande empresa. O enredo se passa na cidade de Madri, em um momento onde ocorre
uma série de protestos contra a globalização e a uma crise monetária provocada
pelo FMI. Nesse contexto, sete pessoas são colocadas em uma sala fechada em que
todos estão concorrendo a uma mesma vaga.
Logo
no início da obra nos deparamos com os profissionais chegando à esta sala e
sendo obrigados a preencher um formulário que, ao que tudo indica, já fora
preenchido anteriormente pelos mesmos outras duas vezes por cada um deles. No
texto desse formulário é apresentado ao público, e aos candidatos, pela
primeira vez o “método Grönholm”. Não se explica do que se trata esse método,
mas no decorrer da trama percebemos que é um mecanismo de seleção onde os
candidatos são submetidos a situações adversas (e por vezes extremas) e
avaliados conforme suas respectivas reações à essas situações. E é aqui que nos
deparamos com os dilemas morais que o filme nos apresenta. Até onde cada um
está disposta a ir em diferentes situações? E além disso, por quê?
Para
essa resenha destaco três desses momentos onde é possível perceber:
·
um exmplo de altruísmo ético (quando aparece a
notícia de Julio em sua antiga empresa);
·
um exemplo de deontologia, ou quase (quando
Enrique não sabe porque acusou Ricardo); e
·
e o mais claro, o exemplo de egoísmo ético (o
fim do filme, quando Carlos fica no prédio deixando Nieves sair).
Seguindo
a ordem dos fatos no filme, a primeira filosofia que nos deparamos é com o altruísmo
ético de maneira quase pura. Quando aparece ao monitor para todos os candidatos
que Julio, enquanto trabalhava em alto cargo em uma grande empresa química,
denunciou a própria companhia para evitar um grande desastre natural, os
concorrentes são postos no dilema de manter ou não ele no processo seletivo. Se
por um lado ele fez “o certo” (e os candidatos admitem que “não há qualquer
dúvidas sobre os motivos que o levou a fazer isso”), por outro lado ele
prejudicou os seus. Ao se defender o personagem afirma que ele tomou essa
atitude “por um bem maior”, e é aqui que temos um excelente exemplo de altruísmo
ético. De acordo com Costa (2002), o princípio do altruísmo ético é que “uma
ação é moralmente correta quando produz um bem maior para os outros,
independentemente do bem ou mal que ela possa trazer para o agente que a
realiza”. E de fato, se por um lado a atitude de Julio salvou um rio, e
consequentemente preservou a saúde de milhares de pessoas e outros seres vivos.
Na contramão disso, ele não só fora demitido, como também expulso pelos outros
candidatos, pois não seria um candidato que colocaria os valores da empresa em
primeiro lugar.
O
segundo momento onde podemos perceber com um exemplo prático de uma ética é
quando Enrique fala para Montse, a secretária da empresa, que Ricardo é um
sindicalista. Quando Ricardo sai da sala exasperado e na volta admite que ele
era o infiltrado no processo seletivo, o personagem pergunta a Enrique por que
ele havia feito o que fez. Enrique não sabe o que responder e acaba sendo
eliminado por não saber direito suas próprias crenças. Aqui percebemos um embate
interno em Enrique, o qual levaremos ao campo da deontologia.
Novamente
de acordo com Costa (2002), na ética deontológica “o centro do valor moral está
nas regras morais”. Enrique, possivelmente, em sua vida cotidiana tem para si regras
morais que diriam ser errado entregar um igual (ambos são candidatos à vaga) em
uma atitude de traição. Porém, o conjunto de regras morais dentro do ambiente
profissional constam que os funcionários devem prezar pelos valores da
companhia (por isso Julio fora eliminado), e ao levar isso em consideração (em
uma situação de extrema pressão) acabou por entregar Ricardo. Assim, ao ser
questionado do porquê ter entregue Ricardo, muito provavelmente essas duas
filosofias éticas se confrontam internamente e o personagem simplesmente ficou
perdido e respondeu “não sei”. Daí vem a importância da identificação dos
próprios valores.
Nas
últimas cenas do filme temos o exemplo mais claro de filosofia ética entre os
três identificáveis nessa análise: o egoísmo ético. O princípio do egoísmo ético
é que “uma ação é moralmente correta quando ela tem consequências boas para o agente
que a realiza, independentemente do que ela possa trazer para as outras pessoas”
(Costa, 2002). Ao fim do filme, quando Carlos manipula Nieves para sair da sala
enquanto ele volta para ficar com a vaga, vemos que para ele magoar os
sentimentos da outra personagem, e manipulá-la de alguma forma para que ela
saia e ele fique com a vaga, são consequências que ficam em segundo plano se
ele acabar sendo o escolhido. E é o que acontece, o que é priorizado é o seu
próprio bem em detrimento do bem do próximo.
Por
fim, o que o filme El Metodo nos apresenta é uma situação real (embora
exagerada) em que nossos valores são confrontados. O que a obra propõem para o
espectador é uma reflexão sobre como seria a nossa conduta nesse ambiente, ou
como já foi anteriormente em nossa vida. Afinal, qual é a sua filosofia moral?
E, aproveitando o dilema de Enrique, por quê?
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